terça-feira, 4 de novembro de 2014

Acidente em Ibitinga : Carolina Santos estava no ônibus e perdeu a mãe e o irmão.

O que eles significam para você, Carol?", perguntamos. "Tudo!", ela respondeu.
Para comemorar a formatura, os alunos do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Dom Gastão Pinto, em Borborema (SP), realizaram, no dia 27 de outubro, uma excursão para São Paulo. Eles participaram de um concerto didático da Fundação Osesp, na Sala São Paulo, visitaram o Aquário, no bairro do Ipiranga, e fizeram uma parada rápida no Campinas Shopping, antes de cairem novamente na estrada rumo a Borborema. Além dos formandos, a diretora do colégio e alguns professores estavam acompanhando o grupo, que também tinha alunos de outras séries inferiores, que foram sorteados para preencher as vagas dos formandos que não iriam viajar. O clima era de comemoração, de dever cumprido, de férias.Até que, a meia hora de casa, quando já estavam em Ibitinga, a tragédia aconteceu. Na madrugada, o ônibus escolar colidiu com uma carreta, deixando 13 mortos, muitos feridos e uma tristeza sem tamanho.
 
Carol perdeu a mãe, que era também a sua professora de matemática, e o irmão, que ficou dois dias em coma.
 
A estudante Carol Santos era uma das adolescentes que estava no passeio. A primeira coisa que nos chamou atenção quando entramos no Facebook dela foi a foto de capa: um desenho do One Direction. Foi um choque de realidade. Aos 14 anos, Carolina é directioner, assim como muitas leitoras da CAPRICHO, e estava planejando sua festa de 15 anos. Mas a comemoração precisou ser adiada, porque a mãe dela, a professora de matemática Margarete Aparecida Lucas dos Santos, de 44 anos, e o irmão, Leonardo Lucas dos Santos, de 17, também estavam no ônibus, mas não sobreviveram ao acidente. 
 
Tão difícil quanto se colocar no lugar da Carol foi saber exatamente como começar a nossa conversa. "Faz uma semana. Não lembro bem o horário, pois estava dormindo, mas devia ser quase meia noite. Só sei que acordei com gente gritando, fogo na estrada, cheiro de queimado e um ônibus pela metade", lembra. O veículo teve a lateral direita completamente arrancada pela colisão, mas Carol conta que, no susto, quase nem reparou. "Minha mãe estava sentada perto de mim e meu irmão estava no fundo com os amigos. Na hora, nem lembrei que eles estavam nas cadeiras do lado direito. Eu só queria sair às pressas e encontrar a minha família".
 
Depois que a ambulância chegou, Carol foi levada para o hospital mais próximo e descobriu que havia machucado o braço. Nada sério se comparado ao estado de seu irmão, naquele momento em coma (Leonardo acabaria morrendo dois dias depois), e de sua mãe, uma das vítimas fatais. "A hora do acidente não foi difícil. Difícil foi o dia seguinte. Difícil está sendo agora. Parece que a ficha ainda não caiu".
 
Para encarar esse momento tão doloroso, a estudante está se consultando com um psicólogo, cedido pela Diretoria Regional de Ensino de Borborema. "Conversamos basicamente sobre o que estou sentindo. Em parte, ajuda, pois é um desabafo. Mas eu prefiro me abrir com as minhas amigas, com quem tenho mais intimidade. Conversar com o meu pai ainda é um pouco estranho", confessa.
 
Nas amigas, Carol encontra grande parte do apoio que precisa para continuar. #ForçaCá
 
Sempre que se sente mais triste e sozinha (na maioria das vezes, à noite, antes de dormir), Carol conversa com uma amiga por WhatsApp. Para ela, se abrir com algum colega que também tenha passaso pelo trauma é mais reconfortante. "Quando eles falam que realmente sabem o que estou sentindo, sei que é verdade. Falar que minha mãe e meu irmão estão em um lugar melhor é um consolo, mas não ajuda, pois eu continuo preferindo que eles estivessem aqui comigo".
 
Carol acha que todo mundo que perdeu alguém há pouco tempo não deve ter vergonha de buscar apoio e nem chorar quando sentir vontade. "Sempre temos a impressão de que vamos incomodar, mas se você sente que precisa conversar, vá em frente. Superar tudo sozinha não é o melhor jeito", afirma.
 
Em maio de 2015, Carolina comemoraria seus 15 anos com uma festa de debutante. Juntas, a mãe e ela já estavam acertando os detalhes da comemoração, como buffet, vestido e decoração. Mas tudo isso perdeu importância diante do ocorrido.  "A última coisa que minha mãe me disse foi para eu tentar dormir, pois estava muito agitada".  

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